Presidente concedeu entrevista nesta terça (19) a jornalistas estrangeiros.
Ela afirmou aos correspondentes que Brasil tem 'veio golpista adormecido'.
Em entrevista coletiva a
correspondentes estrangeiros no Palácio do Planalto, a presidente
Dilma Rousseff afirmou nesta
terça-feira (19) que muitas pessoas atribuem exclusivamente a ela a
responsabilidade pela crise econômica que atingiu o país desde 2014.
Segundo a petista, se crise
econômica fosse argumento para destituir presidentes da República, "não
teria um único presidente nos países desenvolvidos" que sobrevivesse à
profunda crise econômica que se espalhou pelo mundo após o estouro da bolha
imobiliária nos Estados Unidos em 2008.
"Como se eu fosse
responsável pelo fim do superciclo das commodities, pela brutal crise que
afetou, a partir de 2009, os países desenvolvidos, como se no resto do mundo
essas dificuldades não tenham sido enfrentadas em até escala muito maior",
disse a presidente aos correspondentes.
Dilma também afirmou que
está sendo "vítima" de um processo de impeachment baseado em uma
"flagrante injustiça" e que o Brasil tem um "veio golpista
adormecido". De acordo com a petista, ela classifica de "veio" a
possibilidade que "nunca é afastada".
"Como explicar esse
processo de impeachment no quadro da democracia, da situação política e da situação econômica? Faço essa pergunta
porque tenho profunda consciência que estou sendo vítima de um processo
simultaneamente baseado numa flagrante injustiça, numa fraude jurídica e
política que é a acusação do crime de responsabilidade sem base legal, sem
crime e, ao mesmo tempo, de um golpe", ressaltou a presidente da República
ao iniciar a entrevista aos jornais internacionais.
"O Brasil tem um veio
que é adormecido. Um veio golpista adormecido. Se acompanharmos a trajetória
dos presidentes no meu país, no regime presidencialista, a partir de Getúlio
Vargas, vamos ver que o impeachment, sistematicamente, se tornou um instrumento
contra os presidentes eleitos. Eu tenho certeza de que não houve um único
presidente depois da redemocratização do país que não tenha tido processos de
impedimento no Congresso Nacional. Todos tiveram. Todos", enfatizou.
Voto
de Bolsonaro
Em meio à entrevista, Dilma
foi indagada por um jornalista sobre o voto do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ)
na sessão da Câmara, no último domingo, que autorizou o prosseguimento do
processo de impeachment para o Senado.
Ao votar favoravelmente pelo
impeachment, o deputado do PP disse que votava pelo afastamento da presidente
"em memória" ao ex-comandante do DOI-Codi em São Paulo coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra. O órgão de Estado chefiado pelo militar que morreu em
outubro do ano passado era responsável pela repressão política durante o período
da ditadura (1964-1985).
Dilma, que foi presa e
torturada pelo regime militar, respondeu que considerou "lamentável"
a fala de Bolsonaro. Ela afirmou que conheceu "bem" o coronel
Brilhante Ustra, que, segundo ela, foi um dos "maiores torturadores do
Brasil". A presidente destacou que o ex-chefe do DOI-Codi, além de ser
acusado de ter torturado militantes de esquerda, também era acusado de ter
cometido assassinatos.
"Lastimo que este
momento no Brasil tenha dado abertura para a intolerância, o ódio e para esse
tipo de fala [de Bolsonaro]. Acho gravíssima a aventura golpista, porque levou
a uma situação que não vivíamos no Brasil, que é a siiuação de raiva, do ódio e
da perseguição", observou Dilma.
"É terrível você ver no
julgamento alguém votando em homenagem ao maior torturador que este país
conheceu. É lamentável", concluiu a presidente.
'Golpe'
Ao longo da entrevista,
Dilma também voltou a defender as operações contábeis do governo que embasaram
o pedido de impeachment apresentado por três juristas no Congresso. Segundo
ela, as chamadas "pedaladas fiscais" e os decretos presidenciais
publicados sem autorização do Legislativo são questões "contábeis e
fiscais" que não dizem respeito ao dinheiro público.
A presidente chamou a
atenção dos correspondentes de que durante a votação do processo de impeachment
no plenário da Câmara, no último domingo (17), poucos deputados se referiram
aos motivos alegados no pedido de impeachment protocolado contra ela no
parlamento.
Aos jornalistas
internacionais, Dilma voltou a afirmar que, na opinião dela, ela está sendo
alvo de um "golpe", na medida em que, disse a presidente, as acusações
do pedido de impeachment não são base legal para um processo de afastamento de
um presidente.
"Me sinto injustiçada e
acho grave que tentem sempre diminuir esse fato. Esta exigência, que é a
exigência da base legal para buscar o impedimento do presidente da República.
Aí pergunto para vocês: por que isso não seria um golpe? É um golpe. É um golpe
porque está revestido de um pecado original, que é não ter base legal para o
meu impeachment."
(Do
G1, em Brasília/ Foto: Reprodução)

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