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terça-feira, 19 de abril de 2016

Dilma diz que não pode ser a única culpada pela crise econômica do país

Presidente concedeu entrevista nesta terça (19) a jornalistas estrangeiros.
Ela afirmou aos correspondentes que Brasil tem 'veio golpista adormecido'.


Em entrevista coletiva a correspondentes estrangeiros no Palácio do Planalto, a presidente
Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira (19) que muitas pessoas atribuem exclusivamente a ela a responsabilidade pela crise econômica que atingiu o país desde 2014.

Segundo a petista, se crise econômica fosse argumento para destituir presidentes da República, "não teria um único presidente nos países desenvolvidos" que sobrevivesse à profunda crise econômica que se espalhou pelo mundo após o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008.

"Como se eu fosse responsável pelo fim do superciclo das commodities, pela brutal crise que afetou, a partir de 2009, os países desenvolvidos, como se no resto do mundo essas dificuldades não tenham sido enfrentadas em até escala muito maior", disse a presidente aos correspondentes.
Dilma também afirmou que está sendo "vítima" de um processo de impeachment baseado em uma "flagrante injustiça" e que o Brasil tem um "veio golpista adormecido". De acordo com a petista, ela classifica de "veio" a possibilidade que "nunca é afastada".

"Como explicar esse processo de impeachment no quadro da democracia, da situação política e  da situação econômica? Faço essa pergunta porque tenho profunda consciência que estou sendo vítima de um processo simultaneamente baseado numa flagrante injustiça, numa fraude jurídica e política que é a acusação do crime de responsabilidade sem base legal, sem crime e, ao mesmo tempo, de um golpe", ressaltou a presidente da República ao iniciar a entrevista aos jornais internacionais.

"O Brasil tem um veio que é adormecido. Um veio golpista adormecido. Se acompanharmos a trajetória dos presidentes no meu país, no regime presidencialista, a partir de Getúlio Vargas, vamos ver que o impeachment, sistematicamente, se tornou um instrumento contra os presidentes eleitos. Eu tenho certeza de que não houve um único presidente depois da redemocratização do país que não tenha tido processos de impedimento no Congresso Nacional. Todos tiveram. Todos", enfatizou.

Voto de Bolsonaro
Em meio à entrevista, Dilma foi indagada por um jornalista sobre o voto do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) na sessão da Câmara, no último domingo, que autorizou o prosseguimento do processo de impeachment para o Senado.

Ao votar favoravelmente pelo impeachment, o deputado do PP disse que votava pelo afastamento da presidente "em memória" ao ex-comandante do DOI-Codi em São Paulo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. O órgão de Estado chefiado pelo militar que morreu em outubro do ano passado era responsável pela repressão política durante o período da ditadura (1964-1985).

Dilma, que foi presa e torturada pelo regime militar, respondeu que considerou "lamentável" a fala de Bolsonaro. Ela afirmou que conheceu "bem" o coronel Brilhante Ustra, que, segundo ela, foi um dos "maiores torturadores do Brasil". A presidente destacou que o ex-chefe do DOI-Codi, além de ser acusado de ter torturado militantes de esquerda, também era acusado de ter cometido assassinatos.

"Lastimo que este momento no Brasil tenha dado abertura para a intolerância, o ódio e para esse tipo de fala [de Bolsonaro]. Acho gravíssima a aventura golpista, porque levou a uma situação que não vivíamos no Brasil, que é a siiuação de raiva, do ódio e da perseguição", observou Dilma.

"É terrível você ver no julgamento alguém votando em homenagem ao maior torturador que este país conheceu. É lamentável", concluiu a presidente.

'Golpe'
Ao longo da entrevista, Dilma também voltou a defender as operações contábeis do governo que embasaram o pedido de impeachment apresentado por três juristas no Congresso. Segundo ela, as chamadas "pedaladas fiscais" e os decretos presidenciais publicados sem autorização do Legislativo são questões "contábeis e fiscais" que não dizem respeito ao dinheiro público.

A presidente chamou a atenção dos correspondentes de que durante a votação do processo de impeachment no plenário da Câmara, no último domingo (17), poucos deputados se referiram aos motivos alegados no pedido de impeachment protocolado contra ela no parlamento.

Aos jornalistas internacionais, Dilma voltou a afirmar que, na opinião dela, ela está sendo alvo de um "golpe", na medida em que, disse a presidente, as acusações do pedido de impeachment não são base legal para um processo de afastamento de um presidente.

"Me sinto injustiçada e acho grave que tentem sempre diminuir esse fato. Esta exigência, que é a exigência da base legal para buscar o impedimento do presidente da República. Aí pergunto para vocês: por que isso não seria um golpe? É um golpe. É um golpe porque está revestido de um pecado original, que é não ter base legal para o meu impeachment."

(Do G1, em Brasília/ Foto: Reprodução)

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