A presidente Dilma Rousseff reiterou várias vezes,
durante pronunciamento nesta segunda-feira (18) no Palácio do Planalto, que se
sente injustiçada com a decisão da Câmara dos Deputados sobre o prosseguimento
do processo de impeachment ao qual responde.
Dilma afirmou que se sente injustiçada, entre outras
razões, porque a sessão da Câmara foi presidida por alguém que é acusado de ter
contas ilegalmente no exterior, em referência ao deputado Eduardo Cunha.
"Também me sinto injustiçada por não permitirem nos
últimos 15 meses que eu tenha governado num clima de estabilidade
política", declarou.
De acordo com a presidente, a injustiça também é
praticada porque, segundo afirmou, não cometeu crime de responsabilidade e
devido a um suposto tratamento diferenciado.
"Não há crime de responsabilidade. Os atos pelos
quais eles me acusam foram praticados por outros presidentes da República antes
de mim e não foram caracterizados como atos ilegais ou criminosos",
declarou. "A mim se reserva um tratamento que não se reservou a ninguém.
Os atos que me acusaram foram praticados baseados em pareceres técnicos."
Mais um fator de "injustiça" apontado por Dilma
foi a votação no Congresso das chamadas "pautas-bomba", projetos que
geram despesas adicionais para o governo. "Isso [a injustiça] se expressa
em pautas-bomba, que no ano passado chegaram a montar em R$ 40 bilhões",
afirmou.
"Me sinto injustiçada, injustiçada porque considero
que esse processo é um processo que não tem base de sustentação. E é por isso
que me sinto injustiçada. A injustiça sempre ocorre quando se esmaga o processo
de defesa mas também quando, de uma forma absurda, se acusa alguém por algo,
primeiro, que não é crime e, segundo, acusa e ninguém se refere a qual é o
problema", declarou.
Ela destacou, porém, que não se sente desanimada e que
não vai se abater nem se deixar paralisar. "Tenho ânimo, força e coragem para
enfrentar – apesar de, com sentimento de muita tristeza – essa injustiça',
disse a presidente.
Abaixo o que a presidente falou sobre outros temas
durante o pronunciamento e ao responder às indagações dos jornalistas:
Michel
Temer
"Esta tentativa de eleição indireta se dá porque
aqueles que querem ascender ao poder não têm votos para tal. Além disso,
acredito que é importante reconhecer que é extremamente inusitado, estranho e,
sobretudo, estarrecedor, que um vice-presidente, no exercício do seu mandato,
conspire contra a presidenta abertamente. Em nenhuma democracia do mundo uma
pessoa que fizesse isso seria respeitada porque a sociedade humana não gosta de
traidores."
Economia
"Eu acredito que será necessário um grande rearranjo
do governo. Acho que nós teremos um outro governo no sentido de que vamos
construir um novo caminho. Na verdade, estrou enfrentando, já enfrentei o
terceiro turno das eleições, agora vou entrar no quarto turno e, depois do
quarto turno, tem, além das medidas que já anunciados e que tenho certeza que são
importantes, nós lançaremos outras medidas."
'Repactuação' do governo
"Podemos vir a repactuar o govenro. Agora, não se
trata de modificar ministérios nem de tomar alguma medida em termos de cargos.
Aliás, obvimente, aquela pessoas que votaram no impeachment, não há
justificativa política, ética, para que permaneçam. Não podem permanecer no
governo por uma simples questão de consequência dos seus próprios atos.
Estranho seria o contrário."
Judicialização
do processo de impeachment
"Sabe o que acontece? Nós não abrimos mão de nenhum
dos instrumentos que temos para defender a democracia. Portanto, não se trata
de judicializar processo nenhum. Trata-se de exercer em todas as dimensões e
consequências o direito de defesa."
Senado
"Sobre os senadores, teremos com os senadores
relação absolutamente diferente da Câmara. Até porque essa é realidade politica
do país. Nós teremos interlocução sempre muito qualificada com os
senadores."
Lula
"O presidente Lula, de fato, tem me ajudado muito
nesse processo. Nós esperamos que seja nesta semana autorizada a vinda dele
para a chefia da Casa Civil da Presidência. A gente espera também que se isso
ocorrer ainda esta semana, certamente ele virá. A minha relação com o
presidente Lula é a mesma de sempre. Nós somos companheiros especiais porque ao
longo dos últimos anos nós trabalhamos juntos, durante seis, sete anos,
diuturnamente e também agora voltamos a trabalhar juntos."
Ditadura
"Sem sombra de dúvida, a ditadura é um milhão de
vezes pior. Até porque na ditadura não é só você. As pessoas, o cidadão comum,
não têm direito a nada, não têm liberdade de expressão, a pessoa não pode
reivindicar salário melhor. A ditadura é, sem sombra de dúvida, o pior dos
mundos. A democracia pode não ser perfeita, pode não ser absolutamente sem
falhas, mas ainda é o melhor regime que o ser humano construiu ao longo da
história. Não tem comparação."
Oposição
"Quero dizer que também me sinto injustiçada por
outro motivo. Por não permitirem que eu tivesse, nos últimos 15 meses,
governado num clima de estabilidade política. Vejam vocês. Contra mim,
praticaram sistematicamente a tática ou estratégia do 'quanto pior, melhor'.
Pior para o governo. Melhor para a oposição."
Eduardo
Cunha
"É muito interessante porque não há contra mim
nenhuma acusação de desvio de dinheiro. Não há contra mim acusação de
enriquecimento ilícito. Não fui acusada de ter contas no exterior. Por isso, me
sinto injustiçada, porque aqueles que praticaram atos ilícitos e têm contas no
exterior presidem a sessão que trata de uma questão tão grave como é a questão
do impedimento de uma presidenta da República."
(Do
G1, em Brasília/Foto: Reprodução)

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